Nova York: a vida na grande cidade (W. Eisner)

2 abr

[178-365D] They catch us together againPara quem gosta de quadrinhos, para quem prefere as ruas ao campo, pra quem estuda as margens da sociedade ou pra quem simplesmente aprecia bons rabiscos… essa é uma indicação.

Meu livro

Logo quando comecei a me interessar por quadrinhos já babava nesse livro nas estantes da Quadrinhos & Cia. Ele é enorme e deveras chamativo em qualquer lugar. Não pude resistir muito à querê-lo na minha estante e comprei-o na última feira do livro da faculdade. Ah, que alegria! Imaginava que seria uma leitura obrigatória para quem, como eu, sonhava em um dia conhecer Nova Iorque. Mal sabia eu que esta deveria ser uma leitura obrigatória para muita gente por aí.

Por conta da correria do final do curso, só tive tempo de me dedicar à essa leitura esse ano. Pena que não o fiz enquanto ainda estava fazendo algumas matérias da faculdade, porque definitivamente vi diversas relações com nossos estudos em sala. Quem aí tem preconceito com quadrinhos, tire toda essa roupa e jogue fora. Para uma mente aberta, esse livro é um novo estilo de vestuário.

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A história

Não é à toa que Will Eisner (1917-2005) é reverenciado por toda a esfera dos quadrinhos. Em seus 70 anos de carreira (isso mesmo, setenta!) Eisner conquistou o mundo com seus desenhos fortes e carregados de personalidade, tanto que em 1988 a indústria dos quadrinhos criou o Prêmio Will Eisner (o famoso “Eisners”) que serve como premiação pelo “conjunto da obra” nas histórias em quadrinhos. Pode até ser que quadrinhos sejam “fáceis” de ler, mas esse não é o caso. Ele não só é difícil de manusear por ser grande e pesado, mas também seu conteúdo é de caráter extremamente reflexivo, crítico e acusador.

Nova York é composto por quatro graphic novels distintas que o autor criou entre 1981 e 1992. A maioria dos personagens do livro saem do bairro da avenida Dropsie, no Bronx para não muito longe, Manhattan. Apaixonado por Nova Iorque, não foi à toa que Eisner situou a maioria de suas histórias nesse contexto. O Edifício e Pessoas Invisíveis, as duas graphic novels mais convencionais dessa obra são fictícias mas com lampejos de realidade. A estrutura de O Edifício foi modelada a partir do edifício Flatiron, ponto de referência da cidade do título, e os três relatos das pessoas “invisíveis” à sociedade foram inspiradas na história real de Carolyn Lamboly, uma mulher que se suicidou por ter problemas desesperadores com o governo (se quem tudo vê não a vê, quem a verá?).

As outras duas coletâneas de histórias não chegam a ser graphic novels, mas sim vinhetas que foram produzidas em série ou descartadas de outras histórias. Nova York: a grande cidade é originalmente uma série publicada de 1981 a 1983 na revista The Spirit Magazine, que construiu uma coletânea de vinhetas baseadas nas observações de Eisner sobre a vida real das pessoas e seu dia-a-dia, mas o diferencial dessas vonhetas está na perspectiva. Eisner conta com pontos de observações-chave por onde pequenas frações de vida acontecem, como os hidrantes, degraus, semáforos, postes de iluminação, paredes, grelhas e bueiros que, acreditem se quiser, tem muita história para contar (sabe aquela coisa de “se essas paredes falassem…”?).

Cadernos de tipos urbanos foi inicialmente baseado no que Eisner chamava de “cenas deletadas” e não, não estamos falando de cinema. Ele separou um acúmulo de rascunhos, notas e pequenas ilustrações que fez e até mesmo se incluiu como personagem recorrente nessa coletânea, onde aparecia acompanhado de um transeunte baixinho abrindo ou encerrando seções com um bloco de notas na mão. Na capa, vemos a ilustração dele mesmo desenhando em uma esquina e na minha cabeça, essa foi a imagem que retive de Eisner.

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Esse livro me fez pensar, me trouxe sorrisos tristes que carregam lapsos de uma realidade que não queremos ver, me fez ver beleza no mais simples gesto e concordar com cenas dizendo que os humanos, de fato, não prestam. Fiquei com medo de ser uma pessoa invisível, procurei no passado fantasmas de nostalgia que me perseguiam, olhei duas vezes para calçada onde minhas amigas e eu costumávamos sentar para colocar os assuntos em dia. E no final, virei na rua errada, só para apreciar o dia e não me preocupar em fazer o caminho mais curto que culminaria em afazeres inadiáveis que nem eram tão importantes assim.

Obs: Não deixem de ver o link sobre graphic novel que likei lá em cima, bem interessante. ;)

# 2013: 6º

Título: Nova York: a vida na grande cidade
Autor: Will Eisner
Editora:  Quadrinhos na Cia.
Páginas: 439

Skoob: nota 5/5

Com carinho,

A.

3 Respostas to “Nova York: a vida na grande cidade (W. Eisner)”

  1. Raiza 4 de abril de 2013 às 8:07 am #

    Quantas vezes a gente não ficou admirando esse livro na Feira do Livro, heim?! ;)
    A resenha ficou linda, Aninha! Deu até vontade de reler o meu!

    • anapalombo 12 de abril de 2013 às 7:47 am #

      Obrigada, Razinha! :*

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