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Um Homem de Sorte (N. Sparks)

15 ago

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Não canso de falar, sempre que recomendo um livro do Nicholas Sparks, dos elementos fundamentais nas suas histórias: pequenas cidades onde todos se conhecem; algum lugar com praia, rio ou lago; romances que tem seu ápice em grandes revelações ou acontecimentos; trajetórias de vidas dos personagens bem construídas, onde o passado é quase sempre marcado por dores ou feridas emocionais. Não tem jeito, sempre tem algum ou vários desses elementos combinados, chega até a ser previsível. No entanto, tudo isso não me dá argumentos para não ler e continuar investindo em seus livros – e se isso não é argumento para declarar que, de fato, estamos lidando com um bom autor, então temo que teremos para apelar para os números. O queridinho norte americano já publicou 19 livros, sendo que 9 deles já viraram filmes.

Um Homem de Sorte foi um presente de aniversário. Como disse, sempre que posso mantenho um ou outro título do Sparks na prateleira para quando precisar de um romance que me prenda, me faça ansiar pelos momentos de sentar pra ler e que dê um novo personagem para eu me apaixonar, brigar e chorar. Sabem como é, as vezes buscamos nos livros sentimentos que satisfaçam nossas emoções conflitantes. Esse livro cumpriu seu papel.

A história envolve uma fotografia, destino, perseverança, esperança e um cachorro lindo  – eu sei que dentre tantos aspectos interessantes sobre o livro, o cachorro em si não é um dos mais importantes, mas… pra mim foi. Zeus é o nome do pastor alemão, adestrado pelo próprio Thibault desde seus primeiros meses de idade, que cumpre um papel interessante na história, servindo de elo entre algumas relações e como um ponto chave em certas situações. Acredito que tenha sido um personagem criado com bastante carinho pelo Sparks, pois exaltou a sabedoria, o respeito e a lealdade que os cachorros tem com seus donos.

Outro aspecto que o Sparks sempre ressalta em seus livros é o destino, o caminho pré-determinado, o encontro da sua alma gêmea e todos esses sonhos que circundam as mentes de jovens alegres e sorridentes, como eu. Li algumas entrevistas do autor e ele defende bravamente a bandeira dos romances à moda antiga, onde a superação dos obstáculos fortalece o amor.

Porém, mesmo com tanta qualidade, dei uma nota “regular” no Skoob. Não me levem a mal, eu gostei do livro,m só acho que às vezes Sparks exagera no drama da ação, fazendo-a fugir um pouco da realidade. Sei que busco a fuga da realidade, que essa é uma história fictícia e tudo mais, mas preferia que certas situações não fossem forçadas, queria que ele me convencesse que aquilo poderia acontecer comigo um dia desses. Não sei se fui clara, mas minha única crítica é essa: exagero.

No final, ainda recomendo. Sabem como é sempre bom ter uma história dessas por perto, não?

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Título: Um Homem de Sorte
Autora: Nicholas Sparks
Editora: Novo Conceito
Páginas: 349

Preço médio: R$ 13,00 – R$ 29,90

Skoob: nota 2/5

Com carinho,

A.

Franny and Zooey (J.D. Salinger)

27 abr

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Mais uma vez me peguei agarrando um livro ao passar os olhos pelas estantes da livraria. Não consigo descrever o prazer que sinto em fazer isso. Assim como sinto prazer em ter uma boa conversa, tranquila, com quem quero conversar, com quem gosto de conversar. E esse livro é isso: uma boa conversa.

Ás vezes nós nos apoiamos nas palavras do outro para formar opinião. Ás vezes achamos as palavras e ações do outro tão ridículas que nos sentimos no direito de julgá-las, mudá-las, moldá-las ao que nós achamos, ao nosso padrão de certo e errado. Eu sou uma dessas pessoas, infelizmente. Minha teimosia põe a prova os gostos dos outros e muitas vezes limitou minhas convivências e, claro, refletiu meu respeito ao próximo. Tive que terminar uma faculdade e receber palavras fortes e diretas para enfim perceber quão ridícula agia. Quão desrespeitoso meu discurso sobre respeito estava sendo. Precisei de algumas boas conversas para moldar o que sou hoje. Ok, e o que isso tem a ver com o livro? Vamos lá.

Salinger cria belos personagens, para quem gosta do seu estilo – Para quem não gosta, apenas afirmemos que são personagens muito bem construídos. Tomemos por exemplo as pessoas que leram “O Apanhador no campo de centeio”, elas se dividem em quem gostou e quem não gostou do Holden. Sou parte do time Love-Holden, mas prometo não puxar o saco de ninguém, ok? Quero recomendar este livro de forma sincera.

Nesse livro, os personagens são igualmente intensos. Vejam bem, com personagens tão complexos e que possibilitam tantos níveis de interpretação, como enfeitar a história com uma trama brilhante? Exato. Neste livro, não lidamos com uma história cheia de acontecimentos, mudanças e reviravoltas. Lidamos com um passado, um presente e a busca por um futuro. Lidamos com diálogos, simples diálogos entre mãe e filho, irmãos e namorados. Diálogos que nos possibilitam analisar e fazer conexões de identificação com os personagens pelo caminho inverso: a descrição você quem faz, analisando os gestos, o modo de falar, o jeito de abordar um assunto ou as expressões que sucedem uma resposta. É isso, esse é o poder do livro. Logo, pode te levar por uma grande aventura no coração do lago das interpretações, ou apenas por um caminho simplista ao seu redor. A escolha é sua.

O livro é, na verdade, a junção de duas histórias publicadas na revista The New Yorker: “Franny” em 1955 e “Zooey” em 1957. Estes são os caçulas da família Glass, família que tem também papel central no outro livro de Salinger, intitulado “Raise High the Roof Beam, Carpenters” e “Seymour: An Introduction” (“Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira” e “Seymour, uma Introdução”) – livro que também reúne duas histórias publicadas na revista, e que pretendo adquirir em breve, by the way.

As histórias de Franny e de Zooey se casam ao debaterem, através de diálogos, a filosofia de vida de cada um dos irmãos e por discutirem sobre ceticismo, fé, comportamento e paz interior. Ambos tem um passado conturbado pela perda de dois dos sete filhos que compõe a família e, para ajudar, ambos andaram lendo um dos livros que encontraram no quarto antigo do seu irmão… E este livro abalou tudo o que sabiam sobre fé, sobre os outros e sobre si mesmos.

Só mais uma coisa: e ele (o livro) tem grandes sacadas, grandes frases e citações que te fazem parar, sorrir e dizer “é assim mesmo!”. Eu, lendo novamente minhas marcações, tive essas reações tudo de novo. Que prazer ter um bom livro em mãos, um que possa satisfazer tanto quanto uma boa conversa.

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Com carinho,

A.

Vaclav & Lena (H. Tanner)

18 mar
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“Vaclav pensa em como, às vezes, quando está frio lá fora, você pode se sentir aquecido porque há pessoas ou lembranças de pessoas que o aquecem como uma fogueira, ou fazem você se sentir como um esquimó que não se incomoda muito com o frio extremo, mesmo que você sinta um frio extremo. Outras vezes você pode sentir que tudo no mundo inteiro está frio por certo motivo, e que está frio só pra você, e você vê todas as outras pessoas como um fogo para aquecê-las, e você tem a sensação de que vai sentir frio pra sempre. Às vezes a gente pode sentir um frio assim até no verão.” (TANNER, 2012, pág. 40).

Vaclav & Lena fala de coisas simples que podem ser interpretadas com a profundidade que você queria dar ao mergulho. Vide parágrafo acima: pode ser interpretado como a fala sem conexão e rápida de uma criança querendo explicar algo importante, pode ser simplesmente um exemplo metafórico do amor, ou ainda mostrar como a solidão e a saudade podem prejudicar até mesmo épocas mágicas como o verão. Fiz coro ao exagero, no entanto senti de verdade um pouquinho de cada sentimento. E pelas resenhas que li por aí, isso foi um fato que pode descrever o livro – ele permite interpretações variadas. A minha vai para um lado um pouco mais realista.

A estreia de Haley foi bem bacana. Eu compraria outros livros da autora para acompanhar sua evolução – porque tenho certeza de que ela irá melhorar; vejo coisas à melhorar na narração da história, na escrita e na descrição dos contextos e personagens, nada demais, mas detalhes aqui e ali que faltaram. No geral, ela me cativou por uma característica em particular: descrever situações com palavras simples e impactantes,  metáforas como a citada acima, que parecem não mostrar nada e, ao mesmo tempo, te mostram um buraco de significados implícitos. Gostei muito desse estilo dela escrever.

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Também é interessante ressaltar que o livro trata de assuntos sérios como abuso, o abandono e a perda. Apesar de não estarem aprofundados, estes temas contextualizam o romance e dão margem para discussão. Não sei se o considero um livro de para crianças, mas de fato o considero importante para adolescentes abrirem a cabeça para alguns assuntos. Acabei lendo outro livro em seguida deste, que abordava com maior profundidade estes temas, e o modo como os adultos guardam e lidam com traumas parecidos que sofreram na infância, me fizeram lembrar da trama do Vaclav e da Lena. Foi então que percebi como são parecidos os caminhos que as mentes percorreram, mesmo em personagens estranhos de tramas completamente diferentes. Conexões com a vida real não faltam.

O livro é separado em quatro partes: “Juntos”,  “Separados: Vaclav”, “Separados: Lena” e “Juntos outra vez”. Na primeira parte vemos um romance de crianças criativas com o sonho de estrelar um show de mágica. Sim, um mágico famoso e sua bela assistente treinam desde cedo e no meio dos treinos tropeçam nas suas primeiras problemáticas na escola e na família. Acompanhamos o crescimento de ambos nas suas respectivas perspectivas e acabamos encontrando-os já esbeltos adolescentes que buscam resolver os mistério das suas vidas na última parte.

Foi por meio dessa descoberta eu passei a entender com maior profundidade algumas realidades que desconhecia, foi por isso que dei atenção especial ao livro e considero sua história de grande motivação. Eu sei que enxergo beleza nos mais sutis detalhes, mas de fato repensei alguns julgamentos que já fiz por aí. Adoro quebrar barreiras na minha própria cabeça, por isso dei 4 estrelas pro livro. Só não estendo a minha interpretação aqui porque não quero deixar spoiler e tampouco conduzir a interpretação de vocês. Então leiam e, depois, quem sabe, podemos sentar para discutirmos a história? ;)

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# 2014: 6º

Título: Vaclav & Lena
Autora: Haley Tanner
Editora: Intrínseca
Páginas: 272

Skoob: nota 4/5

Com carinho,

A.